A fuga do capital humano do Brasil
Vamos falar de Brasil, acredito que uma analogia com futebol é super válida. Imagine um time de futebol com grandes chances de sucesso. Eles jogam num campo verde, sem buracos e com grama perfeita. Os jogadores são tão bons quanto. Treinados em escolas de futebol desde pequenos pagas com dinheiro do clube. A chance do time como um todo de atingir o sucesso é enorme. Porém, algo estranho acontece. Toda vez que um grande craque está pronto para jogar e fazer uma mudança no time para melhor ele é vendido. Indo para outro clube produz lá o seu melhor, não retornando nada para o clube que o treinou. Pior, os outros jogadores que também são bons começam a almejar os outros clubes também, abandonando quem os ensinou. Quem fica para trás? Não são os piores. São aqueles que por algum motivo não chamaram a atenção de quem olha de fora, são aqueles que por vontade própria resolveram ficar por amor ao clube e, finalmente, são aqueles que não atingiram a excelência. Aqueles portanto que não conseguiram dizer sim ou não pois não foram ao menos questionados se queriam ir.
Agora substitua o clube pelo nosso país e os craques pelos estudantes, professores e empresários de excelência. Esse é o cenário que eu vejo o Brasil hoje. Uma das maiores consequências após o Ciências Sem Fronteiras foi a criação de uma legião de pessoas de alto conhecimento acadêmico com vontade de sair do país. De fato, o que tenho presenciado é que cada vez mais amigos de "alto valor agregado" saem do país para trabalhar lá fora.
Mas o que há de errado nisso?
Vamos a uma estimativa de custo para formar um engenheiro eletricista pelo sistema público. Com duração de 5 anos, a mensalidade média do curso é de R$ 2.000,00. Logo, o custo total é de R$ 120.000,00 para o Estado. Digamos que 1 ano letivo em uma faculdade no exterior (Ciências Sem Fronteiras) custe cerca de USD 30.000,00, com um dólar modesto a R$ 4,00 temos mais R$ 120.000,00 adicionados a conta. Isso não estimando custos de viagem, bolsas auxilio e outras coisas fornecidas pelo programa.
Fechamos a conta do custo de formar um Engenheiro Eletricista participante do Ciências Sem Fronteiras em R$ 240.000,00.
O investimento feito nessa pessoa caso ela fique no país é recuperado com alguns anos uma vez que ela é a mão-de-obra que empresas multinacionais procuram para instalar-se em um país. Ou, pode ser recuperado caso ela se torne um professor multiplicador de conhecimento ou um empresário criador de empregos.
O problema ocorre quando ela sai do país. O dinheiro investido não será recuperado. A pessoa terá utilizado dinheiro público para crescer profissionalmente e começará a gerar valor em um outro país que não gastou um centavo com seu novo colaborador.
Estaríamos então todos nos estudantes de faculdade pública presos ao país?
Não acredito ser a melhor pessoa para responder essa pergunta. Tive por muito tempo uma vontade latente de morar fora do país. A verdade é que se uma oportunidade surgisse não sei se pensaria duas vezes em aceitar. São muitas as coisas que nos impelem a querer sair do Brasil: violência, corrupção e falta de retorno do que é pago em impostos são apenas alguns exemplos.
Do outro lado da história sinto um enorme peso em minhas costas. Sabendo de tudo isso que foi dito acredito que devo retornar ainda muito para o meu país. Tento multiplicar ao máximo tudo que sei, sempre tentando passar para outros o que aprendi ao longo de tantos anos no sistema público de faculdade. Infelizmente, sozinho sei que não vou conseguir fazer grandes diferenças. Acredito que outras pessoas em situações similares vão ler um dia esse texto e se encontrar. Querendo ou não somos uma elite privilegiada e devemos ajudar aos próximos sempre que possível.
O que fazer então?
A responsabilidade de um estudante de uma universidade pública de um país como o Brasil é enorme. Utilizamos o imposto de muitos para crescer e temos portanto uma dívida com todos eles. Se, ao sair do país, você mantiver a consciência que só conseguiu isso pelo suor de outros que nunca ao menos viu na vida já é um grande começo. Retornar algo, mesmo de fora, é algo que fará para manter sua paz. Se um dia eu chegar a sair do país quero que as pessoas saibam que vou procurar incansavelmente maneiras de ajudar o Brasil. Seja como mentor para outros estudantes, com auxilio financeiro para ONGs ou importando e exportando tecnologia.
Espero que tantos outros tenham a mesma consciência que tenho hoje sobre a importância do nosso papel frente a sociedade.
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