Crise dos 27 anos
Sempre achei essa história de
crise dos 30 uma bobagem. Afinal quem é que chega nessa idade e começa a mentir
a idade por vergonha, questionar as conquistas, se preocupar com dinheiro, reavaliar
a carreira e priorizar a qualidade à quantidade? Pois bem, aqui estou eu. Com
"apenas" 27 anos passando por tudo isso.
É engraçado falar de idade, afinal
eu não sou tão “velho” assim. Porém, a idade tem um peso social. Chegar aos 27
anos sem um carro, um emprego ou alguma grande conquista do tipo que me coloque
no status "adulto" sempre faz eu me sentir uma criança. Dizem que
estabilidade financeira é uma das colunas principais para atingir a maturidade.
As bolsas vieram e se foram e aqui estou: de volta aos cuidados da sorte.
Outra coisa interessante a
respeito da idade se refere aos círculos sociais. Quando estava na FATEC-SP eu
era quase o mais novo da turma. Veja só como a vida tem esse humor sagaz para
reverter os papeis. Hoje em dia sou um dos mais "velhos" do meu
curso, isso me faz pensar onde foram parar todos aqueles anos da minha vida. O
tempo voa e isso não é novidade literária para ninguém. O mais importante, o
que deve ser perguntado é: "O que você fez com o tempo que lhe foi
dado?"
E ai entra meu segundo dilema: o
que conquistei? O que fiz desse mundo de dias passaram? Uma, duas, três
faculdades... Trabalhos, projetos, relatórios, estágios, festas, baladas,
noites sem dormir, noites só dormindo... Felizmente amigos e mais amigos. Não
me arrependo de nada disso. Talvez me arrependa de não ter vivido até com mais
força certos momentos da minha vida, de ter deixado o lazer ter mais espaço, o
dever mais horários e a vida como um todo acontecer. Devo admitir que todos
momentos tiveram grandes prós e contras e nenhum foi perfeito. O dinheiro, esse
teve sempre um papel especial em todos eles...
Nunca fui rico, estive em
situações hora confortáveis, hora tristes e desagradáveis. Mais do que ninguém
sei por onde andei, das conquistas e perdas que tive ao longo dos anos. O
alivio que tive em morar fora do país é indescritível. Principalmente pelo fato
de poder tirar das costas o peso do custo que é me manter financeiramente.
Senti muita falta da família, dos amigos, dos cheiros e gostos do Brasil. Mas
estar lá livre de um dos monstros que me perseguiram a vida inteira foi um
alívio. Infelizmente tudo acaba e voltei ao nosso país. Nesse momento em diante
comecei a pensar mais na minha carreira.
Aqui o dinheiro, ou a ausência
dele, fez o seu papel. Atirei-me ao mar em busca de novas oportunidades. Com a
cabeça cheia de ideias comecei a trabalhar na Embrapa. Focado em trabalhos que
envolvem muito mais Software que Hardware comecei aqui a duvidar se realmente
escolhi a segunda faculdade da maneira correta. Felizmente a Universidade de
Toronto me ensinou justamente que não preciso de uma faculdade para ser bom no
que gosto. Hoje estudo programação com muito mais gosto que qualquer outra
coisa pertencente a minha carreira de engenheiro. Aliás, por que engenheiro?
Tentei por tanto tempo fazer mais
daquilo que era "importante", acumulei números onde consegui, mas
isso foi bom? Será que se tivesse feito uma só boa faculdade não seria o
suficiente? Será que se tivesse focado em uma única área não seria um melhor
profissional? Um só estágio, um só projeto, um só bem feito de tudo que tenho
muitos meia boca não teria sido melhor? A vida naturalmente faz você acumular
números com o tempo, seria melhor deixa-la fazer isso por mim. Errei
priorizando quantidade no lugar de qualidade. E tudo isso me faz pensar...
Que tipo de mente atormentada eu
me tornei? Os pensamentos não ficam parados. Você começa a pensar quantos
caminhos tomou ou deixou de tomar. Quantas oportunidades passaram, quantos
romances foram perdidos, quantas histórias nunca existiram. Será que ainda há
tempo para outras acontecerem? Mais 27 anos seriam suficientes?
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